quinta-feira, 1 de julho de 2010

Projeto H2A Entrevista: ITA Reserva

Meus queridos,

hoje temos o último dia de entrevistas de 2010. Finalmente chegamos ao final! A partir de semana que vem, voltamos ao processo normal de conversas semanais... hehehe

Hoje temos a entrevista de 3 engenheiros optantes pela carreira da Reserva do ITA. Agradeço mais uma vez aos entrevistados, pela atenção e pelo carinho de cederem seu precioso tempo para responder a essas perguntas.

Muito obrigado!

Vamos ao que interessa.
Beijomeliga.



Entrevistados: Marcos Arruda (não é meu parente! hahaha), Daniel Saraiva e Halyson Valadão.

1. Qual a sua turma de formação e sua especialidade?

Marcos: Turma 2001. Engenharia de Infra-Estrutura Aeronáutica.

Daniel: 2003-Mecânica de Aeronáutica

Halyson: Formei como civil pelo ITA no fim de 2007 em Engenharia Aeronáutica.


2. Onde trabalha atualmente (cidade e unidade)? Em que função?

Marcos: Rio de Janeiro – RJ. Sou sócio de uma gestora de fundos de investimento chamada Murano Investimentos, focada na gestão de fundos quantitativos (fundos em que as estratégias de operação em renda variável possuem embasamento 100% matemático e estatístico). Dentre as minhas atividades, pode-se citar a pesquisa, desenvolvimento e implementação de novos modelos automáticos ou semi-automáticos computacionais para operar nas bolsas de valores, que buscam detectar, com base em dados históricos e testes realizados com estes dados, oportunidades de ganho de capital.

Daniel: São Paulo. Sou broker de opções de juros.

Halyson: Atualmente trabalho no Rio de Janeiro, como Especialista em Aviação na Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC.

3. Está satisfeito com seu trabalho? Acha que o seu aprendizado durante a formação está sendo realmente empregado na sua vida profissional?

Marcos: Sim, estou bastante satisfeito. O trabalho é pesado e bastante desafiador, mas extremamente satisfatório. Pode-se dizer que o aprendizado acadêmico me ajuda mais indiretamente do que diretamente. Ou seja, meu trabalho não tem nada a ver com engenharia. Contudo, toda a base matemática que adquiri durante a universidade e toda a capacidade de estudar, se virar e correr atrás que temos que desenvolver para conseguir se manter numa universidade como o ITA sem dúvida me ajudam muito profissionalmente.

Daniel: Estou satisfeito e minha formação contribui bastante para a qualidade do meu trabalho. Contudo, é preciso ter consciência de que sua formação acadêmica busca ampliar suas oportunidades e não restringi-las. Aplicar ou não seus conhecimentos vem da sabedoria de cada um.

Halyson: Sim, o trabalho é muito bom, e tem tudo haver com minha área de formação.


4. Em uma escala de 0 a 10, onde 0 é “nada satisfeito” e 10 é “totalmente satisfeito”, como você classificaria a sua situação em relação ao seu salário?

Marcos: Nota 8. Meu salário médio (digo médio porque os dividendos da empresa são variáveis de acordo com a performance dos fundos geridos) é bastante satisfatório e sem dúvida acima da média de mercado das pessoas da minha faixa etária, mas nossa empresa tem apenas 2 anos e muito espaço para crescer, o que me faz crer que ainda é possível receber proventos bem mais polpudos do que os que recebo hoje. Contudo, minha situação financeira é bem confortável e me permite ter uma vida sem grandes preocupações.

Daniel: Infelizmente, suas expectativas mudam com uma frequencia enorme. Você nunca vai estar satisfeito. Hoje você quer ganhar 10, amanhã 5 ou 15, e são pouquíssimas as felizes pessoas satisfeitas no mundo corporativo. Evite ao máximo tomar decisões baseadas numa “variável extremamente variável”.

Halyson: Nota 9, afinal sempre tem o que melhorar, rs.


5. Você viaja muito a trabalho? Acha isso bom ou ruim?

Marcos: Não viajo. É possível e até provável que exista a necessidade de viajar, dado o tipo de negócio, contudo existem outros sócios da empresa mais ligados à parte comercial que fazem as viagens para visitar investidores, corretores, etc..

Daniel: Viajo bastante a trabalho para visitar clientes. Viajar é sempre bom, mas fica cada vez mais penoso viajar com alguém que você gosta te esperando.

Halyson: Sim, há muitas missões em outras localidades, inclusive no exterior. É bom porque demanda responsabilidade e permite compartilhar conhecimento, apesar de ser cansativo.

6. Qual é a razão pela qual escolheram a sua escola de formação? Era sua primeira opção?

Marcos: Sempre fui um dos melhores alunos da minha escola. E sempre tive a intenção de cursar engenharia. Minha opção pelo ITA veio da vontade de prestar vestibular para as melhores universidades de engenharia do país. Assim, prestei vestibular para o IME, ITA, USP, UNICAMP. Mas minha primeira opção sempre foi o ITA, que eu julgava ser a melhor dentre estas.

Daniel: Eu sempre busquei excelência, por isso prestei vestibular para as faculdades mais prestigiadas. O ITA foi minha primeira opção.

Halyson: Minha primeira opção era o IME, como militar. Cogitei nem me inscrever para o vestibular do ITA, mas meu pai insistiu bastante, até preencheu a ficha de inscrição por mim. Serei sempre grato à insistência dele.


7. Você fez cursinho? Quantos anos?

Marcos: Fiz um curso que nem existe mais, na Tijuca, no Rio de Janeiro – RJ. Na época era o curso que mais aprovava no IME e no ITA no Brasil (fiz o curso em 1995). Fiz apenas 1 ano de curso (que na verdade foi o meu último ano do ensino médio).

Daniel: Fiz 1 ano de cursinho com o Humberto. Ensinei ele a jogar bola.

Halyson: Fiz cursinho durante o 3º ano, na primeira vez em que prestei vestibular para o ITA. No ano seguinte tive que estudar por conta própria, pois já cursava Engenharia da Computação na Universidade Federal do Espírito Santo – UFES.


8. Você costumava sair no ano do concurso? Como era sua vida social?

Marcos: Nesse ano eu tinha 16/17 anos. Minha vida social prévia era tão agitada quanto pode ser a de um adolescente dessa idade (ou seja, muito pouco). O que posso dizer é que foi um ano de muito foco e muito sacrifício. Mesmo levando-se em conta que nessa idade eu praticamente não saía à noite, mesmo minha vida social diurna sofreu sérias restrições. Coloquei na cabeça que ia passar para o ITA e não me incomodei em passar 1 ano estudando de domingo a domingo para atingir meu objetivo. Passei muito tempo sem sair com amigos, ser ir ao cinema ou ao teatro. Mas valeu a pena.

Daniel: Minha prioridade sempre foi estudar no cursinho. Eu costumava ir para academia a noite, jogar bola e praia de vez em quando. Ajuda bastante.

Halyson: Quase nada. Eu nunca tive disciplina para estudar, mas no colégio era mais fácil se sair bem porque era possível estudar de véspera e as matérias de cada prova eram curtas, mais simples. No vestibular a história é outra, então tive que aprender a ter disciplina. Isso não foi nem um pouco fácil.


9. O que você não gostou dentro da sua escola de formação?

Marcos: O ITA é uma universidade como outra qualquer (dentre as boas universidades de engenharia do país). Não vá para lá achando que o ITA é diferenciado pelo ENSINO que proporciona. Não é verdade. O que diferencia o ITA são os alunos que vão estudar lá. O ITA tem a característica de concentrar algumas das cabeças mais brilhantes do país em áreas exatas. Contudo, algumas dessas pessoas são completamente fanáticas e fazem daquilo uma religião, e não uma universidade. Agem como se tivessem sido escolhidos por uma força divina para ter o privilégio de estar lá. Arrogantes e fanáticos. Uma dica que posso dar é: a universidade (seja ela o IME, o ITA ou outra qualquer) é apenas uma PARTE da sua vida. Ela não É a sua vida. Também nunca apreciei o fato das notas lá serem dadas na base de conceitos (por exemplo, o conceito ‘R’ significa que sua nota pode estar entre 6.5 e 7.4). Isto dava margem ao professores manipularem sua nota verdadeira de acordo com motivos pessoais e nem sempre justos, pois você só fica sabendo o conceito que tirou nas provas.

Daniel: Com certeza do peixe do refeitório. Foi quase traumático.

Halyson: Gostaria que a grade curricular fosse mais flexível, que houvesse mais espaço para que o aluno escolhesse mais as cadeiras e direcionasse melhor sua formação. Especialmente durante o curso profissional, poderia haver mais matérias optativas.


10. Como é a cobrança de treinamento físico durante o curso de formação? As provas físicas valem para a nota final?

Marcos: No ITA? Zero. Não existe nenhum tipo de cobrança de treinamento físico, nem mesmo para os alunos militares. O militarismo lá, mesmo para os que fazem a opção pela carreira militar, é BEM light.

Daniel: Não é pesado, mas tem importância para sua avaliação como militar, o que é completamente separado da sua avaliação acadêmica.

Halyson: Quase não há atividade física, exceto por algumas atividades recreativas que não influem em nada na nota. Ninguém deve se preocupar com isso, especialmente quem ainda vai realizar a prova.


11. Muitos alunos ficam reprovados durante o curso? Lá dentro, pode repetir uma matéria ou o ano?

Marcos: Sim, ao longo dos anos muita gente vai ficando pelo caminho, infelizmente. Eu diria que 1/3 da turma que entrou não se forma (entravam 120 e se formavam cerca de 80, na minha época). O esquema de notas no ITA é bem rígido. Funciona assim: as cadeiras são semestrais. A média para passar é 6.5. Um conceito ‘I’ representa uma nota entre 5.0 e 6.4 (insuficiente). Um conceito ‘D’ representa uma nota entre 0.0 e 4.9 (deficiente). Num determinado semestre, se você terminar uma ou duas disciplinas com conceito ‘I’, você terá de fazer segunda época (uma prova final) dessas disciplinas. Na segunda época, o cálculo da sua média final é feito pela média aritmética entre sua média semestral e sua nota na segunda época. Esta média final tem que ser igual ou superior a 6.5. Contudo, se você tirar uma nota entre aquela que você precisa para que sua média final seja exatamente 6.5 e 8.4, você passa na disciplina, mas fica com uma nota ‘I’ marcada no seu histórico escolar. Se tirar uma nota superior a 8.4, você passa na disciplina e se livra de ficar com o ‘I’ no histórico. Ao longo de todos os 5 anos de curso, você só pode ter 5 ‘I’s no seu histórico. No sexto, é desligado. Se você tirar menos do que a nota que precisa na segunda época em alguma disciplina, é trancado por nota. Se você terminar uma disciplina com média semestral ‘D’, é automaticamente reprovado na disciplina e terá que fazer dependência (repetir somente aquela disciplina, no ano seguinte, junto com a turma de baixo). E, obviamente, fica com um ‘I’ marcado no seu histórico para aquela disciplina. Se ficar com média semestral ‘D’ em mais de uma disciplina, é automaticamente trancado por nota. O trancamento significa passar 6 meses em casa e voltar com a turma seguinte para repetir o semestre. Ao longo dos 5 anos de curso, você só pode ser trancado por nota uma única vez. Barra pesada!

Daniel: Existem casos de pessoas que trancaram por dois anos. Você não pode repetir nenhuma matéria, existem dependências no máximo. Como se fossem recuperação no ginásio.

Halyson: Se você comparar com outros cursos de engenharia, verá que o percentual de alunos que conclui o ITA é bastante elevado. A turma 2007 começou com 134 alunos e se formaram 126 ao final daquele ano. Muitos trancam alguma vez durante o curso, por motivos diversos, mas pouquíssimos são aqueles desligados por nota.
É possível trancar o curso duas vezes, sendo uma delas por saúde. A rigidez da grade curricular não permite que matérias sejam cursadas em outros períodos, mas a reprovação em uma única matéria permite que esta seja cursada no ano seguinte, paralelamente ao curso.


12. Muitos alunos desistem durante o curso?

Marcos: Desistir mesmo, mais no início do curso, no primeiro ano. Depois, é difícil ver gente desistindo do curso sem ter sido desligado.

Daniel: Absolutamente não.

Halyson: O número é baixo. A desistência é mais comum no primeiro mês, porque às vezes a pessoa é aprovada em outra instituição, mais perto de casa, e acaba optando por não ficar no ITA. No decorrer do curso é raro alguém desistir.


13. Durante a formação no ITA, você estudou mais ou menos do que para passar no concurso?

Marcos: O estudo durante o ITA é mais disperso. Ou seja, no final das contas você acaba agindo como é de praxe em qualquer universidade e estudando pra valer apenas quando as provas estão próximas (o famoso estudo de véspera). Durante o ano de cursinho, o estudo era mais intenso, mais concentrado, ao menos para mim. No ITA foi muito mais fácil ter uma vida social normal do que no ano de cursinho.

Daniel: A qualidade do ensino é impressionante, contudo sua capacidade de se organizar diminui bastante no período da faculdade. Dado que a exigência é alta na faculdade, acaba se tornando cada vez mais difícil você manter o mesmo nível de notas no decorrer do curso. Parece que você estuda mais, mas é apenas falta de organização.

Halyson: Geralmente, estuda-se mais no ITA do que para entrar nele, porque o ITA é bastante rígido e poucos deslizes podem resultar num trancamento ou mesmo desligamento; assim, cada prova é decisiva.

14. Como é a vida na faculdade, as relações entre seus colegas, os estudos, as responsabilidades?

Marcos: O ITA desperta os sentimentos mais diversos nos seus alunos. Eu particularmente, não gostava de estar lá. Sou carioca, e torcia arduamente para que o fim-de-semana chegasse logo para poder voltar para o Rio. São José dos Campos não é uma cidade com muitos atrativos, e era menos ainda há mais de 10 anos, quando eu estava lá. Morar em alojamento com colegas e amigos é uma experiência única, extremamente válida e construtiva. Você amadurece, aprende a cuidar da sua vida, a organizar suas tarefas e a controlar seu tempo. Se não aprende, acaba sendo desligado. Morar com as mesmas pessoas durante 5 anos faz com que você desenvolva algumas amizades (mesmo que poucas) muito fortes, bem mais fortes do que se você não convivesse diariamente com estas pessoas. Você precisa se encontrar, descobrir como se adaptar àquela vida paradoxal de liberdade total aliada a um esquema pesado de estudos. Ou seja, você está num lugar, com 19, 20 anos, morando com amigos, longe dos seus pais, o que poderia significar um passaporte para uma vida de festas, viagens, farra. Mas você precisa saber conciliar esta rotina boêmia com as responsabilidades que te cercam se quiser se formar.

Daniel: Foi uma das grandes experiências de minha vida. Principalmente as amizades. A maioria das suas responsabilidades pode ser atrelada aos estudos. O que pode deixar seu dia a dia mais agitado é o comprometimento com as mais diversas iniciativas da faculdade, sejam acadêmicas, esportivas, estágios, filantrópicas ou socias.

Halyson: A vida no ITA é muito mais divertida do que pode parecer. A interação entre as pessoas que vivem no alojamento é intensa, cada um de uma parte do Brasil. É uma oportunidade única de entrar em contato com a cultura brasileira, mas principalmente uma chance de desenvolver amizades verdadeiras, que durarão por toda a vida.
O espírito coletivo é muito forte no ITA, e isso se reflete na maneira como se estuda para as provas: a maioria prefere estudar em grupo, o que faz com que todos cresçam juntos. Também no cotidiano o coletivo prevalece sobre o indivíduo. Os apartamentos são para até seis pessoas, e todos devem aprender a dividir, a buscar consenso.


15. Como é estar longe de casa e não ter pai nem mãe pra fazer as coisas pra você?

Marcos: Nada demais. A gente aprende a se virar. E tem que aprender, mesmo. É um preparo extra-acadêmico para o mundo lá fora, para a vida adulta e séria. É preciso saber se organizar, e para tarefas domésticas simples como faxina ou lavar roupa, existem pessoas autorizadas que podem ser contratadas para executá-las. Talvez muito mais importante do que alguém para fazer as coisas para você é a saudade que você sente dos seus pais, parentes em geral e amigos que eventualmente tenha na sua cidade natal. No meu caso, como eu voltava para o Rio quase todos os fins-de-semana, ainda era mais fácil. Mas para aqueles que voltavam para casa apenas 1 ou 2 vezes por ano, a barra era bem mais pesada. Mas é um sacrifício a se fazer em prol de um objetivo maior.

Daniel: É um aprendizado.

Halyson: Quando a necessidade aparece, cada um aprende a se virar. Além disso, no ITA contamos muito uns com os outros, então as coisas ficam mais fáceis.


16. Rola sempre aquela história de que o ITA é melhor que o IME. Você concorda ou discorda? Por quê?

Marcos: Como já mencionei anteriormente, eu acho que em termos de ensino tanto o ITA como o IME são ótimas faculdades, mas tão boas quanto uma UFRJ, USP ou UNICAMP, por exemplo. O que diferencia o IME e o ITA são os alunos. As pessoas que se propõem a cursar estas universidades e que se empenham o suficiente para conseguirem passar já são diferenciadas. Independentemente de inteligência, são pessoas que já mostraram seu valor pela disciplina, perseverança e força de vontade que possuem. Particularmente na comparação IME x ITA, é difícil dizer. Eu acho que o ITA é mais nacionalizado, ou seja, eu acho que há mais gente distribuída pelo Brasil se propondo a cursar o ITA do que o IME, que por sua vez, apesar de também ser uma universidade de repercussão nacional, concentra mais o público carioca. Pode ser que hoje não seja mais assim, mas na minha época era. Logo, na filtragem feita pelo vestibular, a impressão que dava era que o ITA concentrava mais alunos brilhantes que o IME. Outro fato (pontual) que dá algum respaldo a esta constatação é que na minha turma do cursinho, praticamente todos os melhores alunos da turma (que ficavam nas primeiras posições nos ciclos de provas), optaram pelo ITA. Mas realmente não dá pra ser conclusivo neste assunto. Eu tenho amigos formados na PUC ou na UFRJ que são hoje profissionais muito mais brilhantes e respeitados do que outros formados no IME ou no ITA. Então acho que uma lição que pode ser tirada de tudo isto é: o peso do diploma ajuda, principalmente para dar um pontapé inicial na vida profissional, mas o indivíduo vale muito mais que o seu diploma. Ao longo da sua carreira, é VOCÊ que vai mostrar o quão bom profissional você é, e o quanto você merece ser respeitado e valorizado.

Daniel: Eu acredito que o vestibular é um excelente instrumento para selecionar os grandes talentos do nosso país. ITA e IME têm fama por serem um dos mais difícies. Eu conheço apenas o ITA, mas tenho amigos brilhantes que cursaram o IME. Não consigo definir um ranking.

Halyson: Em termos de ensino, não acredito que um seja inferior ao outro. A diferença está no reconhecimento. Em São Paulo, por exemplo, o IME é pouco conhecido. Fala-se mais da Poli-USP, da Unicamp. É inegável que a fama do ITA ajuda a abrir portas, e isso é crucial para quem quer ser civil.


17. Como você fez para se manter após o primeiro ano de formação no ITA?

Marcos: Meus pais tinham condições de me dar uma mesada semanal que era suficiente para me manter.

Daniel: O ITA tem uma política agressiva de subsídio. A alimentação é de graça, a moradia é extremamente barata, o ensino é de graça, e todos seus gastos essenciais estão longe de ser um fator de preocupação. Existem bolsas, aulas particulares podem ser ministradas, os veteranos te passam a maior parte dos livros... Eu ganhava algo em torno de 200 reais da minha família.

Halyson: A família me ajudou nesse período. Também fui bolsista de iniciação científica. Uma das vantagens do ITA é que os custos para se manter lá são baixos, a alimentação é dada pela faculdade e o alojamento é barato.


18. A escolha entre as engenharias sempre gera dúvida. Qual foi o maior motivo de você ter escolhido a sua?

Marcos: Bem, quando entrei no ITA minha primeira opção, que foi aquela para a qual passei, era Engenharia de Computação. Escolhi este curso por pura afinidade. Sempre curti computadores e programação em geral. Cheguei a começar a cursar o primeiro ano profissional (terceiro ano de universidade) nessa especialidade. Mas tive uma certa decepção com o currículo (que ao menos na minha época incluía tantas ou mais cadeiras de Engenharia Eletrônica do que cadeiras ligadas a desenvolvimento de software, que era o que eu realmente gostava), e acabei trocando pela Engenharia de Infra-Estrutura Aeronáutica (leia-se, Engenharia Civil). A opção por esta especialidade foi mais uma falta de opção do que uma opção feita de forma consciente e convicta. Como o ITA possui apenas 5 especialidades de engenharia, eu acabei optando pela que imaginei ter mais afinidade dentre as que restaram.

Daniel: Não se preocupe com isso. Eu até hoje não sei qual teria sido a melhor escolha. Eu acreditava que mecânica possuía uma ampla gama de possibilidades em pesquisa.

Halyson: Escolhi por aquilo que eu gostaria de aprender, porque ficaria muito penoso levar o ITA até o fim se cursasse algo que não me interessasse. Todos os cursos oferecem oportunidades de carreiras promissoras depois de formado, então o melhor é escolher pelo que gosta de fazer.


19. Quais são as vantagens e desvantagens de escolher Reserva? Qual é a melhor vantagem de todas? Por que você não escolheu entrar na Ativa?

Marcos: Vantagens: não ter obrigações militares (apesar de que no ITA são muito poucas), poder ir para as aulas vestido casualmente, não ser obrigado a ficar vinculado à Aeronáutica durante os 5 anos após a formatura. Melhor vantagem: poder se inserir no mercado de trabalho mais cedo, dando chance para a sua carreira decolar rapidamente (dependendo do seu empenho, capacidade e um pouco de sorte). Cinco anos após a formatura, você já pode estar muito bem colocado profissionalmente. Sem contar que a média salarial dos alunos civis do ITA após 5 anos de formados é consideravelmente superior ao salário de Primeiro-Tenente.
Desvantagens: não receber salário enquanto está estudando. Para um jovem de 20 anos, o salário de Aspirante-a-Oficial é realmente tentador. Permite que você se sustente, junte dinheiro e ainda tenha uma vida regada. E se quiser ainda pode ajudar financeiramente seus familiares, como fazem muitos alunos militares. Existe também a questão cada vez mais preocupante da estabilidade. A carreira militar é estável e garante uma aposentadoria integral, coisa que nem mesmo os empregos públicos em geral estão garantindo hoje em dia.
Eu nunca tive afinidade com a carreira militar, e desde o cursinho minha idéia de cursar o ITA era apenas a de cursar uma das melhores universidades de engenharia do país. Ou seja, minha idéia nunca foi ser militar, e sim ser engenheiro.

Daniel: A Ativa é uma escolha mais duradoura que a Reserva. Você precisa se comprometer por mais 5 anos depois de formado. Como a fase para essa decisão é quando você não tem a mínima idéia do que quer fazer da vida, eu julguei mais coerente a Reserva.

Halyson: A melhor vantagem de todas é a liberdade. O militar não escolhe onde vai trabalhar, nem com o quê. A flexibilidade para conduzir a própria carreira é a melhor parte de ser civil. A desvantagem é não receber salário durante a faculdade.


20. Depois de formado dá para seguir a área de engenharia ou é mais comum ir para outros empregos?

Marcos: No ITA, apenas uma minoria vai trabalhar com engenharia após a formatura (sem contar os alunos militares). A maioria vai para áreas de consultoria ou para o mercado financeiro.

Daniel: Eu tenho amigos do ITA hoje que são advogados, tem outro que é praticamente um médico. É óbvio que você pode ser engenheiro. Não existe padrão.

Halyson: Isso varia conforme o mercado. Hoje a carreira de engenheiro está valorizada, mas ainda são muitos os que se formam e optam por trabalhar em áreas que não exatamente engenharia. Também é comum a troca de área depois de algum tempo no mercado de trabalho.


21. Existe chance de empresas do exterior "buscarem" alunos?

Marcos: Existe chance sim, apesar de não ser o mais comum. Mas tenho colegas e conhecidos que foram chamados para trabalhar no exterior.

Daniel: Eu estudei em RWTH na Alemanha. O ideal é você ter iniciativa e buscar conhecer as mais diversas parcerias com universades e empresas que o ITA possui.

Halyson: Acontece de o pessoal trabalhar em empresas do exterior, mas normalmente os alunos é que buscam essas oportunidades. A fama do ITA ainda é bastante pontual fora do Brasil.

22. O mercado financeiro busca muitos formados no ITA? Quais características são mais valorizadas?

Marcos: Sim. Muitos alunos do ITA são chamados pelas áreas de investimento de bancos e por gestoras de fundos de investimento para trabalharem assim que se formam. As características mais valorizadas são a capacidade de se virar, de correr atrás, de aprender rápido, de trabalhar bem em equipe, de gerar idéias que agregam valor à empresa, de não ter medo de enfrentar desafios e uma carga de trabalho pesada.

Daniel: Sim. Eu acredito que você estar preparado para as entrevistas é o mais importante. Para qualquer carreira existe um perfil mais admirado, o mercado financeiro não é diferente.

Halyson: Nos últimos anos é cada vez mais comum ver bancos e fundos contratando formandos do ITA. Entre outras coisas, essas instituições buscam pessoas com raciocínio analítico, que tomem decisões rapidamente e que reajam bem à pressão.


23. Quais atributos você considera mais importante na sua aprovação no concurso?

Marcos: Disciplina, empenho e força de vontade. Estudar focado no objetivo, não se enganar, não ficar olhando para o livro e pensando em outra coisa. Ter consciência de que todo aquele sacrifício vai ter valido a pena quando você for aprovado.

Daniel: Estudar com a máxima dedicação. Buscar excelência. Eu realmente acredito que o vestibular é uma competição. E você buscar ser o melhor, buscar estar preparado, te proporciona uma vantagem competitiva imensurável.

Halyson: Um colega que foi aprovado antes de mim disse algo que considero importante: “vestibular não é inteligência, é experiência”. O que ele quis dizer, com razão, é que o candidato não pode chegar na hora da prova e ficar pensando em cada questão que encontrar. Não há tempo para isso. É necessário treinar muito, para que na hora da prova haja poucas surpresas. Por isso, considero importante a perseverança para estudar muito e exercitar o conhecimento até as provas.

24. Se pudesse resumir o seu ano de esforço para passar no concurso em uma frase, que frase seria?

Marcos: Nove meses de esforço sobre-humano que você percebe que valeram totalmente a pena nos poucos segundos em que você recebe uma ligação e ouve do outro lado da linha alguém dizendo que você foi aprovado, que venceu sua batalha.

Daniel: “Eu quero passar no ITA.”

Halyson: Na bandeira do Espírito Santo há uma frase que resume o que deve ser a atitude do candidato: “Trabalha e Confia”. O vestibulando deve trabalhar duro, se dedicar bastante, mas também deve acreditar que ele pode, deve passar longe do desânimo e pessimismo, deve confiar no que estão fazendo. Portanto, trabalhem e confiem!

25. Mensagem final aos futuros ITeAnos

Marcos: Todas as qualidades que você precisa adquirir ou reforçar para ser aprovado neste concurso são as mesmas que você precisará ter para ser bem sucedido em qualquer coisa que for fazer na sua vida. Inteligência é algo muito menos importante do que disciplina e esforço. Lute, dê seu sangue, suor e lágrimas, a compensação sempre vem depois. Você pode até não passar no concurso, você pode até chegar à conclusão de que não gosta de engenharia e querer mudar de área ou de universidade, você pode até achar que o caminho para você é outro, mas os atributos para obter o sucesso são sempre os mesmos. Nada vem fácil. Uma dieta não dura um dia, o treinamento de um campeão olímpico não dura uma semana, Bill Gates não fundou a Microsoft da noite para o dia. Empenhe-se, vibre, faça o que gosta, mas faça com afinco, com vontade de ser o melhor, ou de estar entre os melhores. Nunca se acomode, trace sempre novos objetivos, siga sempre seus sonhos.

8 comentários:

  1. Samuca
    Gostei Paks!
    Pena que já acabaram! Mas valeu!
    ;)

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  2. professor,onde lecionas? gostaria de concorrer vaga para efomm 2011.mande-me um e-mail.necessito de ajuda. mhosantana@hotmail.com

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  3. Bianca - Madureira
    Professor, sem dúvida alguma eu acabo com algumas dúvidas quando venho ler as entrevistas. A única coisa que me deixa super preocupada é quase todos os entrevistados que escolheram "Mecânica ..." , logo a minha engenharia, não trabalham mais com isso!!

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  4. O Marcos gosta de falar ;D³³
    hahaha.. me deu boas informações..gostei das entrevistas..

    elas me tiravam um pouco da rotina pesada ;D

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  5. valeu por postarem essa entrevista, informações como essas de pessoas que realmente passaram pela experiência de estudar no ITA influência muito na motivação para continuar estudando para o vestibular.

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  6. Nossa .. amei essa entrevista. Com ela, tiramos muitas dúvidas e adquirimos mais conhecimento sobre o ITA, o que, acredito que ajuda todos a decidirem o rumo que querem tomar (de ir ou não para o ITA).

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  7. muito bom ler uma entrevista com pessoas que tiveram essa experiencia de terem estudado nessa instiuicao

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  8. Foi realmente inspirador ver essa entrevista, principalmente pelas palavras de Marcos, que me pareceu o mais tagarela rsrrsrsr, vou prestar o vestibular do ITA pela primeira vez e estava meio receoso, mas agora estou mais decidido a estudar pesado, vou atras dos meus sonhos com essa pequena determinação que consegui agora, ela é como fé, então tambem deve mover montanhas....... Obrigado pela entrevista.

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