hoje eu vou copiar um texto muito maneiro, que li no site Globo.com, de Márcio Mará e Thiago Correia. Estamos a um dia de começar os Jogos Olímpicos Londres-2012, e sempre temos esperanças e expectativas em cima de alguns atletas. Assim como temos esperanças e expectativas em relação às provas que faremos. Neste ano de concurso, tomara que o texto sirva de apoio a quem precisar nestes momentos.
Por Márcio Mará e Thiago CorreiaRio de Janeiro
Nem toda garotada de Ipanema pensava dia e noite em praia e sol. No Colégio Pinheiro Guimarães, em junho, meados dos anos 90, o burburinho girava em torno de uma apresentação de festa junina. A farra seria no Clube de Regatas do Flamengo. Uma das professoras buscava um palhaço acrobático para fazer piruetas durante a brincadeira. Durante a semana, soube nas reuniões de classe que um dos alunos, com menos de 10 anos, tinha se tornado centro das atenções após dar cambalhotas nas salas de aula e no pátio, no recreio. Seu nome? Diego Hypolito, irmão de Danielle, atleta de ginástica artística do próprio clube rubro-negro.
O sorridente menino, que já fazia ginástica em Santo André, no Sesi, antes de vir para o Rio e sonhava seguir os passos da irmã no Flamengo, era a alegria das crianças e adorou a ideia. No dia da apresentação, um infortúnio por pouco não estragou a festa. Devido a uma goteira, a quadra da Gávea estava molhada após uma chuva. Na primeira intervenção, Diego escorregou e caiu. O constrangimento tomou conta do público. O garoto começou a chorar. Mas pediu à professora para voltar. Queria repetir corretamente a série. A partir dali, deu tudo certo. No fim, palmas para ele. Era como se o apresentador dissesse: "Com vocês, o artista do espetáculo."
Diego cresceu, virou atleta, mas não qualquer atleta. Num esporte até então pouco comum aos brasileiros como a ginástica artística, fez romenos, russos, americanos e chineses tremerem. O pódio passou a virar quase uma residência. Temido, bicampeão mundial em 2005 e 2007, chegou aos Jogos de Pequim como favorito no solo. Mais uma vez, o destino aprontou. E olha que o brasileiro fazia uma apresentação impecável. Mas, no fim, perdeu o equilíbrio depois do seu último salto. Caiu. Perdeu 800 pontos na contagem e o ouro. Nada também de prata ou bronze. Ganhou o sexto lugar e um pesadelo. Um longo pesadelo.
O atleta sofreu. A família sofreu. Mas o sobrenome Matias Hypolito é sinônimo de DNA desbravador, bem-sucedido. Sem a segunda chance que teve no Pinheiro Guimarães, quando menino, mesmo assim Diego se levantou. No mesmo ano, em dezembro, fez o Natal ficar menos triste: cravou ouro em solo, novamente, na final da Copa do Mundo em Madri. De lá para cá, caiu, voltou de novo a ficar de pé e vive agora, aos 26 anos, em Londres a ansiedade de ter a segunda chance em Olimpíadas. E, para Diego e o torcedor brasileiro, é como se o apresentador voltasse a dizer: "Com vocês, o artista do espetáculo."
- Em todas as apresentações de festa junina ou fim de ano, sempre fomos assistir. E é sempre muito lindo. Ali no colégio Diego já estava mostrando a determinação dele. E o Diego e a Dani aprenderam que você pode cair, porque os obstáculos são colocados em nossas vidas para serem superados. É um guerreiro. Errou? Ele vai retornar, lutar para fazer melhor do que já tinha feito. Acho que veio com ele esse espírito guerreiro, essa paixão, essa vontade de vencer, vencer lutando, não fica esperando que as coisas aconteçam - disse, emocionada, a mãe, Geni, quando ainda arrumava as malas para Londres.
Gratidão
Geni já está em Londres com o marido, Vágner, pai de Diego, e Édson, o irmão mais velho do ginasta, que chegou a seguir a mesma carreira mas não suportou as obrigações que o esporte impõe, como abrir mão em demasiado da vida pessoal para seguir a dura rotina de treinos. A família está toda reunida à espera da apresentação de Diego e Danielle. Quatro anos depois, a ausência em Pequim ainda deixou marcas.
- Foi muito difícil. Nós não fomos, por alguns motivos, e sofri muito com ele. Quando caiu lá, caí de joelhos e disse a Deus: "Não, Senhor, não pode." Eu não acreditava. Mas em nenhum momento contestamos. Ali, achei que foi sobrenatural ele ter caído, jamais caiu nessa passada. Acho que é para ele se tornar melhor. O imprevisto aconteceu, mas você se torna muito forte na derrota. Agora, foi muito sofrimento, sim. Se estivesse lá, talvez tivesse gritado antes, talvez... Não sei, é coisa de mãe... Ele não teria caído. Queria muito a medalha. Não é só para ele. Queria mostrar, entregar para o Brasil. A gente teve que ter forças, porque logo em seguida ele tinha a grande final do Mundial. E foi campeão nesse mesmo ano. Deus sabe o que faz - afirmou Vera.