quinta-feira, 24 de junho de 2010

Projeto H2A Entrevista: ITA Ativa

Meus queridos,

hoje temos a entrevista com o pessoal formado na Ativa do ITA. Observem que os dois formados já não estão mais na FAB. Agora eles estão trabalhando em outros lugares, porém, trabalharam durante um bom tempo depois de formados no meio militar. Durante a entrevista, vocês poderão perceber alguns dos motivos que os levaram a esta escolha de sair da FAB.

Mais uma vez, agradeço de coração aos amigos que participaram do projeto. Dois engenheiros excepcionais, que eu tive o prazer de ser professor, e que hoje estão brilhando.

Vamos ao que interessa. Beijomeliga!



Entrevistados: Marcelo Portela e Fábio Longo.

1. Qual a sua turma de formação e sua especialidade?

M. Portela: Sou formado em Engenharia Aeronáutica pelo ITA em 2004 e pós graduado em Ensaios em Vôo como Engenheiro de Testes de Aeronaves Asa Fixa no Grupo Especial de Ensaios em Vôo – GEEV, que é uma das cinco escolas de ensaios em vôo do mundo e a única do Hemisfério Sul.

Fábio: Turma 2005 – Eletrônica.


2. Onde trabalha atualmente (cidade e unidade)? Em que função?

M. Portela: Trabalho há três meses na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Sou Especialista em Regulação de Aviação Civil e pertenço à Gerência de Avaliação de Aeronaves e Simuladores de Vôo.
Trabalhei por cinco anos na Força Aérea Brasileira, como Engenheiro de Ensaios em Vôo. Voei e testei praticamente todas as aeronaves da FAB: Mirage III, Super Tucano, Boeing Presidencial, Tucano, T-25, Bandeirante, Brasília, Búfalo, Hércules, LearJet, etc. Além de avaliar algumas aeronaves no exterior tais como Mirage 2000, AlphaJet e Dolphin. Além disso, testávamos muitos armamentos aéreos, tais como metralhadoras, mísseis, foguetes, bombas simples e guiadas a laser, etc. Não posso dizer o nome desses armamentos nem muitos detalhes devido a questões de confidencialidade.

Fábio: Depois de formado trabalhei no CTA (São José dos Campos), no Instituto de Aeronáutica e Espaço, na Divisão de Sistemas de Defesa. Em 2006, fiz o curso de Extensão em Engenharia de Armamento Aéreo, onde trabalhava com projetos na área de defesa militar.
Desde setembro de 2008 estou na Petrobrás como Engenheiro de Petróleo, embarco com escala de 14 x 21 na bacia de Campos – RJ. Logo, posso morar onde quiser.


3. Está satisfeito com seu trabalho? Acha que o seu aprendizado durante a formação está sendo realmente empregado na sua vida profissional?

M. Portela: Estou muito satisfeito, pois trabalho com a minha paixão que é o avião e em uma área bastante técnica, onde tenho que constantemente aplicar meus conhecimentos de engenharia e experiência testando aeronaves.

Fábio: Sim. Sim, os formados no ITA costumam ter uma base de matemática e física muito forte, o que é um grande diferencial para a área de engenharia em geral.


4. Em uma escala de 0 a 10, onde 0 é “nada satisfeito” e 10 é “totalmente satisfeito”, como você classificaria a sua situação em relação ao seu salário?

M. Portela: Diria que 8, pois ganho atualmente R$ 10.000,00 mensais, o que considero um bom salário, mas não estou acomodado com ele. Além disso, como viajo muito, isso dá um bom upgrade no salário, já que quando estamos viajando, ganhamos diárias além do salário normal. Dependendo do destino, em viagens para o exterior, por exemplo, dá mais ou menos USD 300,00 por dia. Em viagens pelo Brasil, em torno de R$ 200,00.

Fábio: 8, pois outras empresas do ramo de Petróleo pagam bem mais.


5. Você viaja muito a trabalho? Acha isso bom ou ruim?

M. Portela: Viajo mais ou menos duas vezes por mês, tanto pelo Brasil quanto para o exterior. São viagens de curta duração, de 2 a 15 dias, no máximo. Gosto de conhecer lugares e culturas diferentes, então, acho muito boa essa oportunidade de viajar a trabalho. Tem alguns lugares em que dificilmente iria a lazer, já que são lugares não tão turísticos ou distantes e caros. Por exemplo, já fui algumas vezes para Israel. É um país maravilhoso, de cultura e tradições fantásticas, mas que seria um país com uma prioridade muito baixa na minha lista de “lugares que ainda quero conhecer”. Acabo também de chegar de Bogotá. Nunca pensei em conhecer a Colômbia. Se não fosse a trabalho, não iria. Gostei da experiência.

Fábio: Sim, todo mês. Quem viaja muito sempre tem saudade de ficar quieto em casa e saudade dos amigos e familiares, mas é questão de tempo para se acostumar.


6. Qual é a razão pela qual escolheram a sua escola de formação? Era sua primeira opção?

M. Portela: O ITA foi minha primeiríssima escolha. Primeiro porque adoro avião e segundo porque eu conheço o nome ITA desde que era criança. Quando eu tinha uns 8 anos, enviava cartas à Embraer e recebia pôsteres de aviões e jornaizinhos do ITA juntos. Eu perguntava pro meu pai o que era o ITA e ele me falava que era um lugar que só tinha gênios (os pais também mentem pra gente). Fiquei com aquilo na cabeça e sonhei em fazer parte daquilo. Veio a adolescência e, com ela, me esqueci de ITA. Queria saber de música, de sair pra dançar, de namorar... Quando comecei a estudar para o vestibular, vi que tinha potencial, e esse sonho voltou com tudo. A possibilidade real de realizá-lo existia e só dependia de mim conseguir.

Fábio: Procurava a faculdade de engenharia que fosse mais renomada e desafiadora do país. Sim.


7. Você fez cursinho? Quantos anos?

M. Portela: Fui mal orientado na época do vestibular. Acabei o segundo grau técnico em eletrônica e nem vestibular prestei naquele ano. No ano seguinte fiz um curso pré-vestibular “normal” para tentar as faculdades públicas: UERJ, UFRJ e UFF. Passei para todas e comecei Informática na UFRJ. Este primeiro ano de cursinho foi muito bom para eu me conhecer, para eu conhecer meu potencial, saber das possibilidades de escolha. Com isso, descobri que seria possível passar para a escola que eu queria mais, que era o ITA. Larguei a faculdade (meu pai quase me matou!) e fiz um ano de turma IME-ITA. Passei em primeiro do Brasil na EFOMM, em primeiro do Rio (terceiro do Brasil) na AFA, passei para IME, Escola Naval e ITA e escolhi o ITA.

Fábio: Sim, 1 ano.


8. Você costumava sair no ano do concurso? Como era sua vida social?

M. Portela: Eu namorava, então fiz um trato com a namorada de nos vermos às terças, sextas, sábados e domingos. Foi isso que fiz o ano todo: estudei e namorei 4 vezes por semana. Definitivamente não foi uma clausura. Creio que o importante nessa missão, como em tudo na vida, é o equilíbrio. Claro que nesse ano você tem que se dedicar muito mais que o normal, mas não pode deixar à parte o lado lúdico da vida. É um ano de muita ralação, uma corrida de resistência em que você tem que dosar suas energias. Beba seu Gatorade de vez em quando!

Fábio: Saía normalmente, mas sempre estudava nos fins de semana para cobrir minhas deficiências do segundo grau técnico. Era normal, mas sem bebidas e viradas, pois isso tira muito a disposição da pessoa.


9. O que você não gostou dentro da sua escola de formação?

M. Portela: A gente sai da turma IME-ITA, onde a maioria dos professores sabe muito e tem uma excelente didática. Chega à faculdade e encontra muitos pesquisadores dando aulas, no papel de professores. Eles sabem muito, mas geralmente não conseguem passar o conhecimento da melhor maneira. Isso é um baque. O estudante tem que aprender a se virar sozinho. Tem que reaprender a estudar. E, além disso, como já disse antes, o ITA era meu sonho e quando a gente sonha, idealiza. Quando cheguei lá e vi seus defeitos, fiquei um pouco decepcionado. Eram defeitos comuns, da vida, mas como era diferente do que idealizei, me frustrou um pouco.

Fábio: A cidade em que se encontra fornece poucas opções de diversão, é mais procurada para trabalho.


10. Como é a cobrança de treinamento físico durante o curso de formação? As provas físicas valem para a nota final?

M. Portela: Não. Se tem uma coisa que não precisa se preocupar no ITA é quanto ao aspecto físico.

Fábio: Praticamente não existe. Não.


11. Muitos alunos ficam reprovados durante o curso? Lá dentro, pode repetir uma matéria ou o ano?

M. Portela: Diria que mais difícil do que passar no ITA é passar pelo ITA. Uns 20% não formaram na minha turma. Lá, você pode trancar uma vez por nota e uma vez por saúde. Existe, além disso, a “dependência”, que é quando você não consegue passar em uma matéria nem na segunda época (recuperação) e a repete no ano seguinte.
Entretanto, o que mais desliga alunos no ITA são os números de notas I (Insuficiente), da seguinte maneira: quando você não alcança a nota para passar em uma matéria no semestre, você fica de segunda época. Você pode pegar até duas segundas épocas por semestre. Mais que isso você tem que trancar. Pois bem, ao fazer a prova de segunda época, você tem que tirar 6,5 + o tanto que faltou para você passar direto. Digamos que você ficou com 5,5 de média. Para 6,5 falta um ponto, logo, para passar na segunda chamada, você tem que tirar 6,5 + 1,0 = 7,5. Agora que vem o pior: se você tirar só isso, você passa, mas fica com uma nota I de Insuficiente no seu boletim. Caso você fique com 6 I ao longo de todo os anos do ITA, você está desligado automaticamente. E o chato é que isso acontece normalmente quando o aluno já está no quarto ano. Para livrar-se desse I, o aluno tem que tirar no mínimo MB (Muito Bom – Nota de 8,5 a 9,4) na prova de segunda época.

Fábio: Sim, é mais difícil permanecer lá dentro do que passar. Não é permitido repetir, porém, o indivíduo pode trancar matrícula 1 vez por motivos pessoais (se não for militar) e 1 vez por motivo de doença.


12. Muitos alunos desistem durante o curso?

M. Portela: Sim. Não sei te dizer um número, mas desistem sim.

Fábio: Sim, um amigo meu de apartamento desistiu já no início do quarto ano, foi fazer medicina na USP.


13. Durante a formação no ITA, você estudou mais ou menos do que para passar no concurso?

M. Portela: Apesar de eu dizer que é mais difícil passar pelo ITA do que pro ITA, eu estudei menos lá. Foi um estudo mais objetivo, planejado. Eu não estava competindo com ninguém, como no concurso, por isso considerava a situação mais controlada. Eu conseguia fazer minhas coisas: malhava, fazia Jiu-Jitsu, dava aulas, viajava, namorava, saía, etc. Vida normal, diferente do ano de cursinho.

Fábio: Muito mais.


14. Os testes de saúde (de visão, ortopédico, etc.) antes de entrar pro ITA e depois quando estiver lá são muito rigorosos?

M. Portela: Não. Para entrar é light e para se manter não existe. Se for aluno militar, é um pouco mais rigoroso, mas nada de outro mundo como para piloto na AFA, por exemplo.

Fábio: Definitivamente não, podem ficar tranqüilos :)


15. Como é a vida na faculdade, as relações entre seus colegas, os estudos, as responsabilidades?

M. Portela: A convivência com os outros alunos é muito boa. No ITA, todos moram em um alojamento chamado H-8. Lá, quando você quer falar sobre qualquer assunto, existe alguém que sabe muito sobre aquilo. Se você souber aproveitar isso, o crescimento será enorme. Tenho amigos do Brasil todo e adoro essa diferença cultural.
A pressão do ITA é muito alta. É muito difícil não saber até o final do quarto ano (o quinto ano é moleza!) se você vai ser um Iteano. São muitas atividades, provas, relatórios, testes, aulas, laboratórios... Mas é assim que você se torna um homem/mulher de verdade: assumindo responsabilidades. E o legal do ITA é que você se torna, além de engenheiro, um “resolvedor de problemas”. São tantos os que aparecem ao longo da faculdade e você consegue superá-los, resolvê-los, que quando você está em uma empresa, o que surge é fichinha!

Fábio: Na faculdade: existe uma forte doutrina de ética (chamada disciplina consciente), a ponto de os alunos nunca colarem mesmo sem vigilância dos professores, estes confiam no aluno. No entanto, se houver quebra nessa ética por parte do aluno ele é desligado imediatamente, pois esse é o pilar principal do ITA. Esse pilar foi herdado do MIT, no qual o ITA foi baseado desde sua fundação (vieram profs do MIT para coordenadar e orientar a formação do ITA e seus princípios por volta de 1950).
Relações: os alunos colaboram muito uns com os outros, tanto na parte de estudos como na vida particular, 99% moram no alojamento. É muito mais difícil fazer ITA morando fora do alojamento, pois essa colaboração e interação com os colegas é fundamental.


16. Como é estar longe de casa e não ter pai nem mãe pra fazer as coisas pra você?

M. Portela: Você cresce muito como pessoa nesta fase da vida. Eu achei muito tranqüilo, apesar de ter sentido muita falta no comecinho.

Fábio: Varia muito de pessoa pra pessoa, nunca fui “filhinho da mamãe” mimadinho, então não tive problemas. Tem alguns que choram com saudades de casa no início, mas depois vêem que é só mais um desafio e mais uma fase da vida, importante por sinal.


17. Rola sempre aquela história de que o ITA é melhor que o IME. Você concorda ou discorda? Por quê?

M. Portela: Eu só tenho a visão de um lado dessa “disputa”. Opinião pessoal: acho que o ITA tem ainda uma maior visibilidade no Brasil, mas o IME parece ter mais recursos. Em termos de “milicagem”, sem dúvida o ITA tem menos que o IME, seja isso bom ou ruim. Não vou entrar no mérito. Isso é uma questão muito pessoal. Cada um que diga se isso é um ponto positivo ou não.

Fábio: Pelo conheço dos meus amigos do IME, o que faz o ITA estar um passo a frente do IME é a disciplina consciente e o espírito de camaradagem e colaboração entre os alunos. Creio que o nível de cobrança seja o mesmo, mas vencer os desafios com forças próprias sem atalhos é um grande diferencial.


18. A escolha entre as engenharias sempre gera dúvida. Qual foi o maior motivo de você ter escolhido a sua?

M. Portela: Sou um apaixonado por aviões. Sempre quis trabalhar com eles. Queria voar, mas não pude ser piloto militar devido à minha miopia. Descobri então esse caminho alternativo para voar e entender melhor o objeto da minha paixão.

Fábio: Eu fiz segundo grau técnico em eletrônica, e me identificava bem com a área.


19. O trabalho é diversificado ou todos os dias existem os mesmos procedimentos a serem seguidos?

M. Portela: Cada dia é diferente. Tem dia em que estou avaliando simuladores de vôo, em outros dias são aviões, em outros são reuniões, burocracia (sim, também tenho que roer o osso muitas vezes), viagens, etc.

Fábio: Meu trabalho, quando na Aeronáutica, seguia basicamente os mesmos procedimentos. Hoje, meu trabalho na Petrobrás é bastante dinâmico, pois aparecem várias situações inesperadas em que devo apresentar soluções.


20. Quais são as vantagens e desvantagens de escolher Ativa? Qual é a melhor vantagem de todas? Por que você não escolheu entrar na reserva?

M. Portela: Uma grande vantagem para mim é poder estudar e ganhar o salário de aspirante já a partir do terceiro ano da faculdade. Ainda falando de salário, o inicial não é dos piores, você se forma ganhando relativamente bem. Outra coisa muito boa é a estabilidade: você pode fazer planejamentos futuros sabendo que estará empregado na época. Há um plano de carreira, você sabe onde pode chegar: o engenheiro da Força Aérea pode chegar a Major-Brigadeiro. Além disso, você pode conseguir continuar estudando, fazendo mestrado, doutorado, etc. A aposentadoria, além de ser integral, vem cedo.
Eu considero a melhor vantagem de todas, você estar em uma carreira que você admira. Ou seja, se você gosta da carreira militar, seja um, se não curte muito, não seja, afinal o diploma do ITA é uma grande estabilidade. Dificilmente você ficará desempregado.
A maior desvantagem de ser militar é que o crescimento é lento e o salário no final de carreira não é dos melhores. Você nunca será rico sendo militar, mas também nunca será pobre. Além disso, as coisas não andam muito rápido lá. Você tem que lutar muito para que os processos corram e o trabalho dê certo.

Fábio: Vantagem e melhor vantagem: a partir do terceiro ano você é promovido a aspirante a oficial e passa a ganhar como tal (mais de 4000 reais atualmente).
Porque não teria como me sustentar em São José dos Campos, sem ganhar nada, somente dependendo dos pais.


21. Quais atributos você considera mais importante na sua aprovação no concurso?

M. Portela: Motivação, dedicação e ser bem orientado.

Fábio: Dedicação (suar a camisa e ter humildade é fundamental), otimismo (acreditar em você mesmo é muito importante) e foco (o aluno deve saber o que vale a pena e o que não vale. Dica: veja o padrão das provas passadas, vai saber o que sempre exigem).


22. Se pudesse resumir o seu ano de esforço para passar no concurso em uma frase, que frase seria?

M. Portela: Mantenha-se motivado sempre.

Fábio: Quando a pessoa tem certeza de onde quer chegar, acredita que é capaz e dedica suas energias para tal, a vitória logo chegará.


23. Mensagem final aos futuros ITEanos

Fábio: Caros candidatos, saudações de, quem sabe, um futuro veterano!

Aqueles que quiserem mais informações podem perguntar através do meu amigo Humberto.

Abraço.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Projeto H2A Entrevista: IME Reserva

Meus queridos,

continuando a série de entrevista do projeto "H2A Entrevista", hoje temos as respostas do pessoal formado no IME, optante pela carreira da Reserva. Com direito a presença internacional e outras praticamente internacionais.

Vale observar que os formados são da turma 2003, época em que o regime era diferente do atual.

Na época em que nossa turma estava lá, os alunos da reserva eram alunos militares, usando farda, cortando o cabelo, etc.. Só não eram promovidos a 1° Ten no 5° ano e, após a formatura, seguiam suas vidas no mercado de trabalho.

Atualmente, os alunos da reserva cumprem o 1° ano com atividades militares, para ser equivalente ao NPOR. Do 2° ano em diante, os alunos são totalmente civis, livres das obrigações militares. É o melhor modelo? Não sei. Vejam as respostas deles e avaliem se a vida militar foi boa ou ruim para cada um.

Mais uma vez, agradeço do fundo do meu coração aos 3 amigos, colegas de turma, que responderam a entrevista. Meu carinho por esses caras é diferente do carinho pelos meus outros amigos. Os 3 entrevistados de hj + Tosta e Hopfinger (IME Ativa) + outros caras da nossa turma formam na verdade uma segunda família. Os laços de amizade ultrapassam qualquer comparação que eu possa tentar fazer. Só quem vive um regime como o de uma escola militar pra ter idéia do nível de amizade e companheirismo que nós atingimos. Não dá nem pra chamar de amigo, a gente precisa se chamar é de irmão mesmo. Meus sinceros agradecimentos aos 3 que responderam esta entrevista, aos 2 irmãos da entrevista da Ativa e aos outros membros desta família, por fazerem parte da minha vida.

Vamos à entrevista!



Entrevistados: João Ambra, Leonardo Coelho e um IMEano que preferiu não se identificar.

1. Qual a sua turma de formação e sua especialidade?

João - Engenharia de Computação – Turma de 2003

Leonardo - Engenharia de Computação – Turma de 2003

IMEano - Engenharia de Computação – Turma de 2003


2. Onde trabalha atualmente (local e empresa)? Em que função?

João - Modulo Security, Filial New York, Director of technical services.

Leonardo - The Spemsa Group – Diretor Executivo

IMEano - Multinacional de Tecnologia da Informação, Brasília, Arquiteteto de Software


3. Está satisfeito com seu trabalho? Acha que o seu aprendizado durante a formação está sendo realmente empregado na sua vida profissional?

João - Sim estou muito satisfeito, desde criança sempre quis trabalhar computadores e já na adolescência comecei a me interessar particularmente pela área de segurança de informação.
Com certeza tenho aplicado meu aprendizado de formação. E gostaria de dividir esse aprendizado em duas áreas. A primeira que é a aplicação direta do conhecimento adquirido durante a formação, o qual aconteceu várias vezes, e normalmente a única lembrada. Como por exemplo, aplicação de conhecimentos de redes e lógica de programação que utilizarem em projetos de segurança. A segunda, normalmente esquecida, que é a aplicação indireta dos conhecimentos adquiridos. Hoje não tenho que resolver um problema de Física II para semana que vem, mas tenho um problema em um cliente que também tem data para ser resolvido, tem que ser resolvido de maneira correta (nota alta), e alem da pressão dos outros problemas na fila que também precisam de resposta (outras matérias). Além dos aspectos humanos, como trabalho em equipe e outros.

Leonardo - Sim/ Sim

IMEano - Sim, gosto muito do que faço. Acredito que, na verdade, apenas 30% do conhecimento técnico que você aprende na faculdade você utiliza no dia-dia. Porém, a faculdade te ensina principalmente a APRENDER sozinho, isso é o fundamental no mercado de trabalho atual. Outros conceitos que aprendi no IME, tais como “Missão dada, missão cumprida”, “Quem sai junto, chega junto”, entre outros, me tornam um profissional diferenciado no mercado.


4. Em uma escala de 0 a 10, onde 0 é “nada satisfeito” e 10 é “totalmente satisfeito”, como você classificaria a sua situação em relação ao seu salário?

João - 9 –Se meu chefe ler isso não recebo mais aumento.

Leonardo - 7.

IMEano - 6. É bom, mas podia ser melhor.


5. Você viaja muito a trabalho? Acha isso bom ou ruim?

João - Esse ano, após o nascimento do meu filho, comecei a diminuir a quantidade de viagens. Mas já viajei bastante, nacionalmente nos EUA e internacionalmente. Cheguei a acumular mais 300 mil milhas nos últimos 3 anos. Gosto de viajar, conheço lugares novos, novas culturas e diferentes visões para um mesmo problema.

Leonardo - Sim, viajo quase semana sim, semana não. Quando solteiro, gostava mais. Agora confesso que me incomoda um pouco. Outra coisa que me incomodava muito era o fato de não conseguir fazer exercícios físicos, mas acabei conseguindo arrumar alternativas com academias próximas aos locais onde normalmente fico.

IMEano - Sim. Tem seus pontos positivos e negativos. Positivos: muito legal conhecer pessoas de todo o país, culturas diferentes/necessidades diferentes e o fato de não ter uma rotina (fora o lado de acumular milhas). Negativos: ausência de casa, cansaço devido a vida corrida e a dificuldade de realizar atividades que exijam rotina (academia, cursos e etc).


6. Qual é a razão pela qual escolheram a sua escola de formação? Era sua primeira opção?

João - Naquela época, meus pais não tinham condição de pagar por uma faculdade privada. Com isso acabei prestando apenas para USP, UNICAMP, IME e ITA.
ITA era a minha primeira opção. Eu fiz curso em SP e estava muito mais próximo do ITA, mas já durante a adaptação do IME, antes mesmo de sair o resultado no ITA já me perguntava qual escolheria se eu passasse nas duas. Acabei não precisando escolher.

Leonardo – Sempre quis IME ou ITA, não fazia distinção entre as duas opções. Acabei preferindo o IME por não querer sair do Rio de Janeiro.

IMEano - Pensei em fazer ITA ou IME. Acredito que ITA era primeira opção por ser mais famoso no nordeste, todavia IME para mim era uma boa opção por ter família no Rio de Janeiro. Mas sempre gostei de carreira que envolvesse criação (publicidade, arquitetura e afins), porém acabei indo para o IME devido a reputação da faculdade. Hoje trabalho com Computação, mas realizando diversas palestras por todo o Brasil com foco de vendas de software. Durante minhas palestras acabo exercitando meu lado criativo durante o processo de vendas.


7. Você fez cursinho? Quantos anos?

João – Fiz 1 ano de Turma IME/ITA.

Leonardo - Não fiz cursinho, fui direto do colégio para o IME.

IMEano - Na realidade fiz 6 Meses de turma IME/ITA no 3º. Ano em Fortaleza.


8. Você costumava sair no ano do concurso? Como era sua vida social?

João – Não Muito. Na turma IME/ITA era internato. Lembro de nos 15 dias de férias de julho ter ido para Salvador; nas noites de segunda, rolava cinema no shopping e raras noitadas no ano. Tínhamos aula todos os dias e teria que ir virado para o simulado de domingo.

Leonardo - Não, saía muito pouco desde o segundo ano, quando comecei minha preparação para o IME. Confesso que saía uma ou outra vez no mês e olhe lá, estava muito focado na minha formação na época.

IMEano - Acabei diminuindo pois estava focado no concurso, mas continuava saindo com namorada e amigos. Vida social é fundamental em qualquer fase da sua vida, em alguns momentos você vai fazerr em maior ou menor quantidade. Acredito que fundamental é PLANEJAMENTO e DISCIPLINA.


9. O que você não gostou dentro da sua escola de formação?

João – Sou um cara muito positivo e esqueço rápido as coisas ruins da vida, não tenho nenhuma coisa que não tenha gostado que valha compartilhar.

Leonardo - Durante os anos de IME, a pressão da vida militar me desgastou muito. Hoje vejo com muito bons olhos, pois deixou como legado uma capacidade de resistir à pressão e conciliar atividades diversas ao mesmo tempo. Acredito que isto diferencia o aluno do IME. Não gostei também da dificuldade que era estagiar na época, o que dificultava o contato com o mercado de trabalho. No final das contas, acabei começando estágio já no terceiro ano. Ponto positivo para o fato de obter uma grana extra e ter experiência profissional, ponto negativo pois tornou a faculdade ainda mais complicada e o tempo mais escasso ainda.

IMEano - Como entrei no IME em uma época que estava fechado para o mercado, e a pouca interação com o mercado acho que dificultou minha vida. Como não tinha a faculdade para fazer esse meio de campo, tive que ir atrás sozinho.


10. Como é a cobrança de treinamento físico durante o curso de formação? As provas físicas valem para a nota final?

João - A cobrança era bem razoável, mas acho que foi bom. Nunca estive em melhor condicionamento físico. No IME as provas físicas valem para a nota final.

Leonardo - Valem para nota final, mas basta ter uma condição física bem razoável para tirar de letra. Estressa por ser mais uma preocupação, foram inúmeras as noites mal dormidas (menos de 4 horas de sono, às vezes menos de 1h) seguidas de corridas pela Urca. Isto desgasta, mas a meu ver o aluno do IME acaba vendo os grandes desafios do dia-a-dia de trabalho como algo mais tranqüilo que a maioria dos profissionais por conta de tudo que passamos durante a graduação.

Nota do H2A: Como já expliquei lá no início, atualmente os alunos da Reserva não cumprem as atividades a partir do 2° ano. Logo, não existe cobrança física.

11. Muitos alunos ficam reprovados durante o curso? Lá dentro, pode repetir uma matéria ou o ano?

João - No IME não se pode repetir nenhuma matéria, se você for correr risco de repetir, a única opção é trancar todo o semestre e fazer todas as matérias de novo.

Leonardo - Repete-se todo um ano. Não são muitos os alunos reprovados, mas todo semestre um ou outro fica no caminho.


12. Muitos alunos desistem durante o curso?

João - Houve alguns poucos que desistiram do curso. Na minha opinião, muito mais por opção do que por não conseguir passar nas provas.

Leonardo - Sobretudo no primeiro ano. Ao longo do curso são raros os que desistem.


13. Durante a formação no IME, você estudou mais ou menos do que para passar no concurso?

João – Pergunta difícil, mas acho que durante os anos estudei menos no IME do que para passar embora também tenha estudado muito no IME.

Leonardo – Muitíssimo mais, sem comparação. A menos que você seja um gênio, quando chega lá dentro o nível de exigência sobe para muito além do que você está acostumado na época de colégio.

IMEano - O estudo durante o curso é diferente. É um estudo mais focado e direcionado para as provas (não sirvo de exemplo para ninguém, foi apenas uma opção minha durante o curso). Logo estudava muito durante as vésperas de prova, mas muito direcionado para a prova, não a matéria como um todo. Diferente da época do concurso que tinha que ser mais genérico. Duante o IME, aprendi a estudar (essa é a verdade), mas tudo é uma questão de opção sua, tinha gente que estudava tanto ou mais do que na época do concurso.


14. Como é a vida na faculdade, as relações entre seus colegas, os estudos, as responsabilidades?

João – Isso é uma coisa que acho que diferencia de qualquer outra faculdade. As relações com meus amigos do IME são para sempre. Já estou formado há mais de 6 anos, moro nos EUA e mesmo assim não perdi contato com grande parte deles. Eles vêm me visitar aqui, quando vou ao Brasil nos encontramos, são amizades sólidas. Passamos por varias dificuldades juntos, estudos de madrugada, acampamentos militares e outros testes de resistência. A responsabilidade aumenta, pois se vc não passar de ano, não tem jeito.

Leonardo – O dia-a-dia é corrido, muitas atividades, provas, trabalhos, leitura, etc. Mas não é preciso estudar o tempo todo, longe disto. Dá para se divertir, sair com os amigos, levar uma vida normal numa boa. O coleguismo é grande, é um ambiente bom para gerar amizades para toda a vida.

IMEano - Hoje, o que eu sinto mais saudade é dessas relações. No IME criei irmãos para a vida inteira. Pessoas que mesmo distante hoje, são pessoas que fazem parte da sua vida. Não só com alunos, como também com professores (muito dos meus professores são grandes amigos que possuo contato ainda hoje). Essa amizade me ajudou a levar o IME numa boa, sem tanto stress. O fundamental é entender a “regra do jogo”, saber o que você tem que fazer e o que você pode fazer. Responsabilidade você terá toda hora, desde provas e trabalhos, até mesmo as responsabilidades da vida devido à distância da sua casa. Mas são essas responsabilidades que irão te fazer crescer, que vai te amadurecer para o mercado de trabalho/vida. No final o que fica vai ser o capital intelectual que você vai adquirir e as amizades.


15. Como é estar longe de casa e não ter pai nem mãe pra fazer as coisas pra você?

João – Para mim foi tranqüilo, já morava fora de casa durante o cursinho. Mas isso é uma coisa muito pessoal, tive amigos que não gostavam muito dessa situação.

Leonardo – Não foi meu caso, pois sou carioca e sempre estive perto dos meus pais. Os amigos de fora sentiam muito isto e eles se uniam ainda mais na amizade gerada entre os que compartilhavam quarto e a saudade de parentes distantes. É mais um sofrimento, sem dúvida, mas a maioria supera e se orgulha muito disto.

IMEano - Um grande aprendizado e faz com que seus amigos de turmas se tornem sua família. Todo mundo te ajuda a caminhar no dia-dia e são essas pessoas que vão suprir a ausência da família.


16. Rola sempre aquela história de que o ITA é melhor que o IME. Você concorda ou discorda? Por quê?

João – Eu acho que cada um tem diferentes vantagens e desvantagens, cada um tem que saber qual curso será melhor no seu caso. Tenho certeza que o IME foi o melhor para mim. Morei no interior de SP e no Rio de Janeiro e me identifico muito mais com o Rio. Foi uma experiência muito boa a parte militar do IME, a qual é diferente da do ITA. Os estágios que consegui no IME não conseguiria no ITA, e provavelmente não estaria na Modulo se estivesse em SP. Cada um deve julgar qual se identifica mais e escolher.

Leonardo – O ITA é nitidamente melhor no que concerne à colocação no mercado de trabalho. A associação de ex-alunos deles é vigorosa, e existe um histórico de alunos bem sucedidos que ajudam uns aos outros. O contato feito entre ex-alunos de IME é mais informal, mas também existem muitos ex-alunos bem sucedidos e que ficam muito felizes em abrir portas para colegas. No contexto da faculdade, estar ao lado do Pão de Açúcar numa cidade de clima tão agradável quanto o Rio de Janeiro é uma vantagem inestimável. E em termos de estudo, acredito que se igualam.

IMEano - Discordo. Não existe escola melhor ou pior. Não tenho dúvida que o ITA é mais conhecido no resto do Brasil, porém no próprio Rio de Janeiro, acredito que o diploma do IME ajuda tanto (ou mais) do que o do ITA. As pessoas só irão avaliar seu diploma na hora de te contratar, depois é todo mundo igual. O que você aprende na faculdade, depende muito mais de você do que da própria escola (todas possuem professores bons e ruins). Tanto IME como ITA são referências no Brasil e possuem apenas alunos de alto nível, logo exigirão o mesmo do seus alunos em termos intelectuais. Para mim, o IME me ajudou muito quando falo em termos de educação militar. Por mais que eu era reserva (na minha época reserva era militar do mesmo jeito), aprendi muito com o militarismo, entre eles o conceito de “Missão dada, missão cumprida!”.


17. A escolha entre as engenharias sempre gera dúvida. Qual foi o maior motivo de você ter escolhido a sua?

João – Já tinha escolhido Engenharia de Computação desde o colegial, nunca fiquei em duvida. Simplesmente sabia.

Leonardo – Flexibilidade para mudanças de carreira no futuro. Tendência do mercado e identificação. No final das contas, acredito que identificar-se com a engenharia é o que mais deve influenciar, pois fazer algo que você não vai gostar vai acarretar muitos problemas no futuro. Em termos de oportunidades e dinheiro, deve-se relaxar, engenheiros têm uma chance muito grande de serem bem sucedidos financeiramente, sobretudo formados no IME.

IMEano - Entrei no IME pensando fazer Construção pois já estava cursando Arquitetura antes de entrar no IME. Todavia no começo do 3º. Ano optei ir para Computação, pois já tinha afinidade com computadores, pois já programava desde os 13 anos. Logo foi uma decisão muito mais baseada em afinidade do que qualquer outro motivo. A dica que eu dou é: pense no que você vai querer fazer depois de formado, pesquise o dia-dia de um engenheiro na especialidade que te interessa, como anda o mercado de trabalho e etc.


18. Quais são as vantagens e desvantagens de escolher Reserva? Qual é a melhor vantagem de todas? Por que você não escolheu entrar na Ativa?

João – Também acho que isso é muito pessoal, existem pessoas que preferem a Ativa e ter uma segurança maior do que o mercado privado, mesmo que, em alguns casos, os limites sejam menores. Particularmente prefiro o mercado privado, mais arriscado, mas com maiores potenciais de retorno. Já trabalhei em instituições públicas e privadas, e após testar as duas, pude tomar minha decisão, recomendo quem tenha essa dúvida tente estagiar nos dois para decidir.

Leonardo – Uma vantagem clara é receber salário de oficial ainda no último ano da faculdade. Seguir a carreira militar significa estabilidade e garantia de um nível razoável de qualidade de vida. Porém, eu não gostei da rigidez do militarismo e muitas vezes como militar, ainda que sendo engenheiro, você acumula funções administrativas, acaba não exercendo suas funções de engenheiro. Além do mais, em menos de 1 ano de formado é possível ter um nível salarial mais alto que o equivalente ao de oficial do Exército. E fazendo um concurso público, alguns colegas conseguem a mesma estabilidade, salários mais altos e atividades mais alinhadas com sua formação.

IMEano - Desvantagem: a incerteza do futuro é muito maior do que na Ativa. Mas o futuro só depende de você. Outro ponto é que se você optar por trabalhar no mercado privado você terá uma vida mais corrida e agitada, já na ativa ou mesmo fazendo concurso público, provavelmente você terá uma vida mais tranquila, sem tanto stress (apesar que toda regra tem sua exceção).

Vantagem: Seu teto salarial é mais alto, sua capacidade de aplicar o conhecimento que você aprendeu é muito maior (se você optou por seguir a carreira da sua especialidade).
Principal: Acredito que na reserva você fica mais antenado com o que acontece de inovação no mundo, do que na ativa (apesar de toda regra ter sua exceção).

Minha escolha foi muito mais por não conhecer a carreira militar do que por outro motivo. No 4º. Ano cogitei até mudar para Ativa, pois teria que pagar mais 2 anos após o término da faculdade. Como não consegui mudar, acabei ficando na Reserva, que hoje eu não me arrependo. Mas tenho grandes amigos que estão muito bem na Ativa. O fundamental é direcionar sua carreira para fazer o que gosta, e tem como fazer isso tanto na ativa como na Reserva.


19. Depois de formado dá para seguir a área de engenharia ou é mais comum ir para outros empregos?

João – Acho que sim, se realmente essa for a sua vontade você pode continuar trabalhando em engenharia.

Leonardo – É bem mais comum você perceber que a engenharia é apenas a base de sua formação. Ganha-se muito mais dinheiro e cresce-se muito mais profissionalmente alinhando os conhecimentos básicos de engenheiros a outras demandas do mercado, como gestão de negócios, marketing, vendas, finanças, etc. Obviamente, isto não é regra, muitos exercem suas funções de engenheiro de forma pura e são tremendamente bem sucedidos. Mas a maioria acaba migrando para outras áreas.

IMEano - Existem os dois caminhos. Eu segui a engenharia e não me arrependo. Você tem que ir para o lado que mais te dar prazer, mas sempre planeje seu futuro, traçando metas a curtos e médio prazo, para garantir que você vai chegar aonde você quer. Sempre pense: o que eu tenho que fazer para chegar lá?


20. Existe chance de empresas do exterior "buscarem" alunos?

João – Sempre existem chances de empresas buscarem alunos, mas se você pretende morar no exterior não recomendo ficar esperando surgir uma vaga para se candidatar. Existem complicações de visto e culturais que dificultam para empresas do exterior levarem brasileiros. Então se você realmente quer morar fora do Brasil eu recomendo que você comece com algum curso no exterior, se necessário por conta própria, e começar a criar seu network internacional, você terá mais opções do que ser transferido diretamente. Trabalhar em Multinacionais também é uma opção e foi o meu caso, tem menos risco, mas também são poucas oportunidades.

Leonardo - Buscarem não sei dizer, mas com certeza os alunos têm toda a bagagem e preparação para buscarem empresas do exterior. Muitos ex-alunos concluíram a faculdade e em menos de dois anos iniciaram formações no exterior, incluindo renomadas faculdades dos EUA e Europa. E em seguida iniciaram uma carreira no exterior.

IMEano - Sim, mas é fundamental ter uma experiência primeiro aqui no Brasil, antes de se aventurar lá fora. Mas vejo dois caminhos mais simples para quem deseja ir para fora: a primeira seria pelo meio academico, fazer mestrado, MBA ou doutorado lá fora; a segunda seria assim que se formar entrar numa multinacional, que tem muitas vagas lá fora, aí com o tempo é mais fácil você arrumar transferência para lá, do que entrar por fora.


21. Quais atributos você considera mais importante na sua aprovação no concurso?

João – Determinação. Existem momentos que dá vontade de desistir, mas se você realmente acreditar que vale a pena ralar tudo isso, e pode ter certeza que vale, você vai chegar lá.

Leonardo – Diligência no estudo de todas as matérias, pois não adianta nada obter uma excelente nota em matemática e não obter nota mínima em português. E uma preparação básica que durou 2 anos com foco claro, abrangendo todo o conteúdo necessário sem deixar escapar nada.

IMEano – Planejamento, Foco e Disciplina.


22. Se pudesse resumir o seu ano de esforço para passar no concurso em uma frase, que frase seria?

João – Queria poder dizer algo diferente, mas na prática o estudo é cumulativo, quando mais você estudar, mais você estará preparado. E se você ainda não esta vendo resultado do seu esforço, é porque ainda não acumulou o suficiente. Continue estudando, que você verá o resultado. Se você já esta notando o resultado, não diminua o ritmo, pois a corrida ainda não acabou!

Leonardo – Foco e dedicação. Esqueça este ano, ele se pagará ao longo da vida. Foque e seja aprovado logo.

IMEano - Planejar: trace metas a curto e médio prazo para sua aprovação. Se pergunte: O que eu preciso fazer para passar? Quais são meus “gaps” de conhecimento? O que eu tenho que focar? Trace objetivos a curto prazo, planeje suas atividades diárias (não precisa marcar hora para dormir e comer, não vire escravo do tempo, faça esse planejamento de tal forma que seja agradável para você). E tente sempre que possível rever seu planejamento, com certeza ele irá mudar. Não esqueça de planejar atividades lúdicas, elas serão fundamentais para seu cérebro funcionar melhor.

Foco: Sempre lembre do seu objetivo final. Não queira abraçar o mundo, foque naquilo que é preciso para alcançar seu objetivo. O ótimo é inimigo do bom.

Disciplina: Baseado no seu planejamento, cumpra, siga seu plano, tenha CONTROLE do seu estudo.


Mensagem final aos futuros engenheiros.

Pensem que a Engenharia é uma formação básica muito forte e diferencial para toda sua vida. É sua primeira formação, muito se vai aprender com a experiência de trabalho e outros estudos. A engenharia por si só não irá garantir seu sucesso. É preciso dedicação, foco, pró-atividade, bom relacionamento, valorização do conhecimento/ aprendizado e dedicação a criar laços fortes com as pessoas que passam por sua vida. Vocês estão apenas começando e existe um caminho enorme, com muitas possibilidades e também percalços. Perseverem, pois o mais importante vocês já têm: um grande sonho. Não deixem de acreditar que podem realizá-lo, mas não esperem cair do céu. Nada virá por sorte.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Projeto H2A Entrevista: IME Ativa

Meus queridos,

dando continuidade ao projeto "H2A Entrevista", hoje temos as respostas do pessoal formado no Instituto Militar de Engenharia, optantes pela carreira da Ativa.

Agradeço muito aos que responderam, mais uma vez, por trocarem tempo de trabalho/lazer por um questionário de futuros candidatos. Muito obrigado, de coração, mais uma vez.

Beijomeliga!



Entrevistados: Frederico Tosta, Frederico Hopfinger e Marcos Martinelli.

1. Qual a sua turma de formação e sua especialidade?

Tosta: 2003 - Engenharia de Computação

Hopfinger: 2005 – Engenharia de Fortificação e Construção

Martinelli: 2007 - Engenharia Mecânica e de Automóveis


2. Onde trabalha atualmente (cidade)? Em que função?

Tosta: Rio, IMBEL/FMCE – Chefe da Seção de Informática (TI de infra-estrutura)

Hopfinger: Estou na minha segunda unidade: Comissão Regional de Obras da 1ª Região Militar – CRO/1. Desempenho função de Supervisão e Fiscalização da obra de construção da Vila Olímpica dos 5º Jogos Mundiais Militares na Vila Militar-RJ.

Martinelli: Brasília. Analista de finanças e controle do Tesouro Nacional.


3. Está satisfeito com seu trabalho? Acha que o seu aprendizado durante a formação está sendo realmente empregado na sua vida profissional?

Tosta: Sim. Em partes, sim. Não tem como colocar tudo que se aprende na prática.

Hopfinger: Plenamente. Em termos de Engenharia, tive oportunidade de participar de diversos tipos de obras, atestando a excelência e, principalmente, aplicação da minha formação.

Martinelli: Sim. Muito satisfeito. Não trabalho propriamente com engenharia. Desempenho funções basicamente ligadas à economia, mas com certeza o período básico do curso do IME contribuiu com importantes ferramentas matemáticas, que atualmente uso no meu dia a dia.


4. Em uma escala de 0 a 10, onde 0 é “nada satisfeito” e 10 é “totalmente satisfeito”, como você classificaria a sua situação em relação ao seu salário?

Tosta: 7.

Hopfinger: Pergunta complicada... 7. O salário oferecido pelo Exército está aquém da capacidade do formando do IME e principalmente, bem abaixo da realidade de mercado, porém, me considero satisfeito principalmente pelo fato de ter oportunidade de atividades paralelas à rotina militar que propiciam complementação de renda

Martinelli: 8.


5. Você viaja muito a trabalho? Acha isso bom ou ruim?

Tosta: Viajo muito pouco. Bom.

Hopfinger: Hoje não muito, mas na minha primeira unidade sim, conheci praticamente todo nordeste. Acho ótimo, quebra a rotina e te dá experiência de vida.

Martinelli: Não. Gostaria de viajar mais.


6. Qual é a razão pela qual escolheram a sua escola de formação? Era sua primeira opção?

Tosta: É a melhor escola de engenharia do Brasil. Sim, porém não achava que iria passar.

Hopfinger: A escolha inicial foi a vontade estudar em uma escola de renome, de 1ª linha no ensino de engenharia, isso me deu como opção IME e ITA. Escolhi o IME por ficar no Rio.

Martinelli: O IME era minha primeira opção e o ITA, a segunda. Escolhi o IME e o ITA pelo desafio.


7. Você fez cursinho? Quantos anos?

Tosta: Não.

Hopfinger: Sim, 2 anos.

Martinelli: Sim, um ano juntamento com o 3° ano do Ensino Médio.


8. Você costumava sair no ano do concurso? Como era sua vida social?

Tosta: Durante o terceiro ano saí muito pouco. Beber só depois de passar :).

Hopfinger: Sim. Sábados à noite e domingos à tarde basicamente, porém, não aproveitava tanto feriados prolongados, mantinha sábados à noite e domingos à tarde.

Martinelli: Não saía. Estudava praticamente durante todo o dia.


9. O que você não gostou dentro da sua escola de formação?

Tosta: Muitas cadeiras ao mesmo tempo. Palestras aleatórias. Início muito cedo (6:30 pronto!).

Hopfinger: A cobrança é cruel, você acaba tendo que abrir mão de convívio familiar, amigos e oportunidades de viagem.

Martinelli: Não me adaptei à disciplina militar, apesar de reconhecer que adquiri virtudes de extrema importância no meu modo de viver.


10. Como é a cobrança de treinamento físico durante o curso de formação? As provas físicas valem para a nota final?

Tosta: Na minha época houve problema com relação às provas físicas, alguns alunos chegaram a ser desligados, mas voltaram após ação na justiça. Valem sim.

Hopfinger: No meu tempo era da seguinte forma: 80% da média final era referente a cadeiras do curso de engenharia e 10 % nota em treinamento físico e 10% de prova escrita de matérias militares.

Martinelli: A cobrança é considerável e não devemos descuidar do lado físico.


11. Muitos alunos ficam reprovados durante o curso? Lá dentro, pode repetir uma matéria ou o ano?

Tosta: Poucos ficam reprovados, e quem fica é pq fez de tudo pra ser (eu quase consegui :) ). Não pode repetir nenhuma matéria, o que pode é trancar o período caso o aluno veja que não tem chance de passar.

Hopfinger: Não sei como é hoje, talvez tenha mudado, tínhamos duas situações: o trancamento e o desligamento. O trancamento ocorria quando o aluno não era aprovado na 2ª época de certa matéria ou ficasse de 2ª época em 3 ou mais matérias. O desligamento ocorria na reincidência de trancamento. Não existia o caso de repetir só a matéria, se ficasse em uma, repetia o semestre todo. Não sei precisar, mas creio q tivemos em nossa turma 10% de trancamento.

Martinelli: Poderia trancar durante um semestre. Alguns alunos foram sim reprovados.

Nota do H2A - Ainda existe o trancamento. Porém, o aluno só pode trancar uma vez durante o curso, tranca o período todo e precisa escolher isto antes de começar a realizar as provas da 2a época.


12. Muitos alunos desistem durante o curso?

Tosta: Poucos.

Hopfinger: Alguns, por falte de afinidade e logo no 1º ou 2º ano e por insuficiência de grau.

Martinelli: Muito poucos.


13. Durante a formação no IME, você estudou mais ou menos do que para passar no concurso?

Tosta: Menos.

Hopfinger: Menos, porém, com picos de intensidade inimagináveis.

Martinelli: Estudei menos.


14. Os testes de saúde (de visão, ortopédico, etc.) antes de entrar pra IME e depois quando estiver lá são muito rigorosos?

Tosta: Não, no meu caso, eu fiquei ao lado do quadro do teste visual por alguns minutos, permitindo que eu decorasse o quadro... :)

Hopfinger: Não, bem tranqüilos.

Martinelli: Consideravelmente sim.


15. Como é a vida na faculdade, as relações entre seus colegas, os estudos, as responsabilidades?

Tosta: Infelizmente ainda há uma divisão entre cariocas e residentes (alunos que moram no IME), mas no final todos acabam se falando, e muitas das vezes servindo junto. Fiz grandes amigos lá. Em relação ao estudo, há MUITO bizu de anos anteriores, então não pense que vai se virar sozinho pq não vale a pena. Durante a época das provas, arrume uma cama no alojamento... A responsabilidade é chegar na hora e passar a farda. :)

Hopfinger: Eu fiz amigos que tenho até hoje, como passamos juntos situações de todo o tipo, os laços de amizade são bem intensos.

Martinelli: Muitas responsabilidades. As amizades verdadeiras formadas são para toda a vida.


16. Como é estar longe de casa e não ter pai nem mãe pra fazer as coisas pra você?

Tosta: Não foi meu caso.

Hopfinger: Talvez a melhor e pior coisa para uma pessoa.

Martinelli: Morava em casa, no Rio de Janeiro. Não tive esse problema.


17. Rola sempre aquela história de que o ITA é melhor que o IME. Você concorda ou discorda? Por quê?

Tosta: Discordo, vide conceito do MEC. :)

Hopfinger: Discordo. Acredito que as duas escolas são indiscutivelmente centros de excelência, porém, o resultado do ENADE mostra que, das engenharias em comum das duas escolas, o ITA fica na frente apenas em uma – ELETRÔNICA e com o IME EM 2º. Em todas as outras, IME fica na frente do ITA e na 1ª colocação.

Martinelli: Talvez seja. Arrependo de não ter escolhido o ITA. Creio que o militarismo menos concentrado facilita o desenvolvimento acadêmico.


18. A escolha entre as engenharias sempre gera dúvida. Qual foi o maior motivo de você ter escolhido a sua?

Tosta: Como minha classificação não foi das melhores, sobraram poucas pra escolher, na hora H, acabei sendo influenciado pelo amigo do lado e escolhi computação. Este amigo por acaso é o dono deste site... :)

Hopfinger: Afinidade, nunca gostei de lidar com dados subjetivos, assim fiquei em duvida entre Mecânica e Civil, escolhi civil por ter um curso melhor estruturado no IME.

Martinelli: Tinha expectativas de poder contribuir para a construção de veículos militares.


19. O trabalho é diversificado ou todos os dias existem os mesmos procedimentos a serem seguidos?

Tosta: Diversificado, sempre há um problema novo a ser resolvido ou um colega pra ajudar.

Hopfinger: Eu trabalho com obra, cada dia é um dia.

Martinelli: O trabalho militar propriamente dito é extremamente cotidiano.


20. Quais são as vantagens e desvantagens de escolher Ativa? Qual é a melhor vantagem de todas? Por que você não escolheu entrar na reserva?

Tosta: Durante o curso, no 5º ano já se recebe o salário de 1º TEN, e para um recém formado o salário está bem razoável. Na minha época, a única diferença da ativa para reserva durante a formação era que os alunos do quinto ano da ativa participavam do acampamento dos alunos novos. Atualmente já há muita diferença.
Uma vantagem da reserva é que normalmente o salário maior, porém, caso vc não passe para a PF, vai ser aposentar com 65 anos.
A melhor vantagem é que aposenta com 30 anos de serviço, independente da idade. No meu caso, 44 anos. :)
Nota do H2A - O Tosta fez Colégio Naval antes do IME. Por isso, o tempo de serviço dele começou a ser contado com 14 anos.

Hopfinger: O Exercito te proporciona estabilidade, esta é a maior vantagem na minha opinião. Porém, existem outras. Temos incentivo e chance de estudar em cursos de mestrado e doutorado, situação raríssima no mercado. A maior desvantagem é o fator salarial.

Martinelli: Meu maior erro foi ter optado pela ativa, ainda mais no único ano em que havia apenas 30 vagas e mais de 50 para a reserva. Fui aprovado em segundo lugar e poderia tranquilamente ter optado pela reserva.


21. Quais atributos você considera mais importante na sua aprovação no concurso?

Tosta: Calma durante a realização das provas.

Hopfinger: Dedicação. No IME temos 10% de gênios e 90% de carregadores de piano.

Martinelli: Força de vontade, sonho e PERSEVERANÇA.


22. Se pudesse resumir o seu ano de esforço para passar no concurso em uma frase, que frase seria?

Tosta: Valeu a pena abrir mão da vida social por ano.

Hopfinger: Nada resiste ao papiro.

Martinelli: Seja um vencedor: trace suas metas e não deixe de atingi-las!


23. Mensagem final aos futuros engenheiros.

Hopfinger: Nada na vida vem fácil, se dedique, estude, estude, estude, nada resiste ao papiro, você irá se orgulhar de estudar no Instituto Militar de Engenharia. Força!

Martinelli: Passar no IME ou no ITA é um desafio que poucos conseguem transpor. Exige muita dedicação e abnegação. É preciso estar convicto de seus sonhos e ciente da batalha que lhe aguarda.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Projeto H2A Entrevista: AFA

Meus queridos,

dando continuidade ao projeto "H2A Entrevista", hoje temos as respostas do pessoal formado na Academia da Força Aérea.

Mais uma vez, meu agradecimento de coração àquele que respondeu.

Beijomeliga!



Entrevistado: Eclaiton Machado.

1. Qual a sua turma de formação e sua especialidade?

Machado: Formei-me em 2007, sou oficial aviador da FAB.


2. Onde trabalha atualmente (cidade)? Em que função?

Machado: Estou servindo no 5º Esquadrão de Transporte Aéreo, Esquadrão Pégaso sediado na Base Aérea de Canoas. Sou o oficial de relações públicas do esquadrão.


3. Está satisfeito com seu trabalho? Acha que o seu aprendizado durante a formação está sendo realmente empregado na sua vida profissional?

Machado: Estou bastante satisfeito. O oficial aviador exerce tanto funções administrativas quanto operacionais, que neste caso é o vôo. Há uma carga elevada de trabalho administrativo. Durante a formação, nós não aprendemos muito como desempenhar esta função, mas não é nenhum “bicho de sete cabeças”, todo oficial recém chegado a uma unidade vai aprender e vai desempenhar um bom trabalho. Com relação à parte operacional que é o vôo nós somos muito bem treinados e empregamos bem o que aprendemos na Academia.


4. Em uma escala de 0 a 10, onde 0 é “nada satisfeito” e 10 é “totalmente satisfeito”, como você classificaria a sua situação em relação ao seu salário?

Machado: Minha nota é 07. Digo isso porque acho meu salário defasado em relação à responsabilidade e formação que tenho e também o comparando com outros funcionários públicos. Mas não fico reclamando o tempo todo.


5. Você viaja muito a trabalho? Acha isso bom ou ruim?

Machado: Eu viajo bastante, pois sou piloto. No meu caso eu acho bom!


6. Qual é a razão pela qual escolheram a sua escola de formação? Era sua primeira opção?

Machado: Eu nunca havia pensado em ser militar, descobri por acaso e me preparei para prestar a prova. A EPCAr era a minha primeira opção.


7. Você fez cursinho? Quantos anos?

Machado: Eu fiz apenas um ano de cursinho.


8. Você costumava sair no ano do concurso? Como era sua vida social?

Machado: No ano do concurso eu era bem mais jovem, tinha 16 anos. Não costumava sair muito, consegui passar com apenas um ano de cursinho, mas tive de me dedicar bastante, até porque eu não tinha uma base muito boa. Pra falar a verdade no ano do concurso eu praticamente não tive vida social, mas não me arrependo de nada!


9. O que você não gostou dentro da sua escola de formação?

Machado: É uma pergunta difícil de responder. Isso é muito subjetivo, pois a formação militar não é agradável, é um período de muita dedicação. Acho que o que mais me irritava era a injustiça cometida por algum superior.


10. Como é a cobrança de treinamento físico durante o curso de formação? As provas físicas valem para a nota final?

Machado: A cobrança era forte, e a meu ver tem que ser assim ou até maior. Na minha concepção o militar da ativa tem que ter um bom preparo físico. As provas físicas valem para a classificação final.


11. Muitos alunos ficam reprovados durante o curso? Lá dentro, pode repetir uma matéria ou o ano?

Machado: Sim, no caso da AFA muitos cadetes foram reprovados durante o vôo. Por exemplo, minha turma começou o segundo ano da AFA com 194 cadetes aviadores e acabou este ano com 113. No quarto ano, se formaram apenas 103 cadetes aviadores. A grande maioria destes foi desligada no vôo, ou seja, não conseguiu concluir. Na AFA, se você ficar reprovado em qualquer item, é desligado do curso. Só para esclarecer, este número de desligamentos na AFA é normal, todo ano é assim. Muitos não conseguem se adaptar ao vôo e têm dificuldades.


12. Muitos alunos desistem durante o curso?

Machado: Durante o curso na AFA as desistências são poucas.


13. Durante a formação na AFA, você estudou mais ou menos do que para passar no concurso?

Machado: São diferentes níveis de estudo. Durante todo o curso na AFA, você vai estudar bastante, mas existem anos que são piores, por exemplo, os anos em que você voa. Nestes anos, o nível de estudo é bem maior do que o estudado na época do cursinho. E como são matérias diferentes tudo depende da capacidade de cada pessoa. Nos outros anos em que não voei, estudei um pouco menos. Vale ressaltar também que existe muita pressão psicológica e isso vai interferir de várias formas diferentes nos cadetes, cada um interpreta de um jeito.


14. Os testes de saúde (de visão, ortopédico, etc.) antes de entrar pra AFA e depois quando estiver lá são muito rigorosos?

Machado: Para entrar na AFA são extremamente rigorosos, após estar lá dentro as coisas ficam mais tranqüilas.


15. Como é a carreira do oficial formado na AFA?

Machado: O cadete, um mês antes de se formar, escolhe o tipo de aviação que quer seguir na carreira. Na FAB, existem 5 aviações: transporte, patrulha, reconhecimento, caça e helicóptero. Ele se forma no final do ano, sendo promovido a Aspirante-a-oficial aviador. No ano seguinte, a turma é dividida, os que escolheram as aviações de caça ou helicóptero vão para Natal, os que escolheram as aviações de transporte, patrulha ou reconhecimento vão para Fortaleza. Todos ficam um ano nestas localidades e fazem o curso nas respectivas aeronaves que irão voar de acordo com a aviação escolhida. Este é o curso de especialização operacional. Ao final do curso, todos escolhem as unidades que irão trabalhar no ano seguinte, de acordo com sua classificação (o que conta é o desempenho no ano). No início do ano seguinte, toda a turma se junta e vai para Natal realizar o curso de tática aérea que tem duração de 2 meses. Após este curso, todos vão para as suas respectivas unidades. No meu caso, por exemplo, eu escolhi a aviação de transporte. Sendo assim, tinha 7 opções de localidades: Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus, Belém, Porto Alegre, Brasília e Recife. Eu escolhi Porto Alegre. Cada aviação tem uma variedade de unidades diferentes. Na caça, por exemplo, o piloto vai para Boa Vista, Porto Velho ou Campo Grande. Vale ressaltar que todas estas primeiras unidades que nós vamos após o curso em Natal são unidades de segunda linha. A FAB funciona da seguinte forma: o piloto se forma, faz sua especialização e vai para as unidades de segunda linha, após um período de 4 a 6 anos, ele pede transferência para as unidades de primeira linha, que são unidades com aeronaves melhores, e quando vai ficando “mais antigo” tende a não mais escolher a unidade e sim “ser escolhido” pois irá comandar alguma unidade.


16. Quem vai pra AFA, mas tem maior interesse pela área de engenharia, há caminhos que podem ser seguidos?

Machado: Sim, os oficiais aviadores podem prestar prova para o ITA aos formados. Todos os anos, o ITA reserva uma quantidade de vagas para os oficiais aviadores, na maioria das vezes, as vagas são maiores do que o número de interessados. Se o militar passar na prova, já está aprovado. Qualquer piloto pode fazer isso desde que autorizado pelo seu comandante. Por exemplo, aqui em Canoas há um Major Aviador, que fez a prova para o ITA, quando estava no último ano de tenente. Ele foi pra lá, fez o curso de 5 anos e depois foi transferido para uma unidade da FAB para trabalhar no setor de engenharia. Como ele já era oficial da FAB, a sua carreira continuou normalmente, só que em vez de ficar 5 anos trabalhando em alguma unidade ele ficou 5 ano realizando o curso no ITA. Ele foi promovido nas épocas certas como qualquer outro oficial. Isso é assim para todos os oficiais que fazem o curso no ITA.


17. Quais atributos você considera mais importante na sua aprovação no concurso?

Machado: Para a minha aprovação o mais importante foi o comprometimento e dedicação. Se você colocou na cabeça que é aquilo que você quer, vá em frente e se dedique. E sempre pense: Eu vou passar! Você tem que ser o primeiro a acreditar!


18. Se pudesse resumir o seu ano de esforço para passar no concurso em uma frase, que frase seria?

Machado: “Alguém tem que passar, por que não pode ser eu?” Uma vez me disseram essa frase e acho que ela se encaixa muito bem. O segredo para passar num concurso é acreditar em si mesmo e ter muita força de vontade!!!